Agrotóxicos provocam o triplo de anomalias em bebês na terra do café

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Uso de agrotóxicos mais que triplica anomalias em bebês de cidade do interior de São Paulo. Imagem: Arte CBN

 

Diário Verde  volta novamente à carga, repercutindo o primeiro post da série de matérias da Rádio CBN sobre um um grande perigo invísivel que atinge a todos nós. 

Trata-se dos agrotóxicos, cuja contaminação, ocorrência de graves doenças, além de prejuízos sociais e econômicos pelo seu uso indiscriminado com uma fiscalização frouxa no campo, legislação ultrapassada e  injusta desoneração de impostos continuam na ordem do dia de alguns veículos da mídia.

No mês passado, destacamos a falta de seriedade de como o país trata a questão tão série de graves impactos nocivos para a sociedade brasileira, tornando-se o líder mundial no uso de agrotóxicos.

Na primeira semana de maio, foi a vez da Rádio CBN  que produziu e veiculou uma  série excelente de três reportagens do jornalista Pedro Durán sobre o tema.

‘Terra do melhor café’. É assim que se apresenta a pequena Ribeirão Corrente, que tem cinco mil habitantes e fica no interior de São Paulo.

Lá, os números da produção e da venda de café é que deveriam chamar a atenção, mas são outros dados que assustam o defensor público do estado de São Paulo, Marcelo Novaes.

“A média no estado de São Paulo foi de 8,2 mal formados por mil nascidos vivos com tendência de aumento conforme a gente pode ver a tabela, porque a gente tem a evolução de ano a ano de 2000 a 2014. Já Ribeirão Corrente tem 300% acima da média do estado de São Paulo”, conta.

Segundo ele, além de Ribeirão Corrente “nós temos inúmeras outras cidades como Sandovalina, Cristais Paulista, Alvilândia, Indiaporã, São João da Bela Vista… É uma questão de saúde pública.’

 

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Lavoura de café, Ribeirão Corrente/SP. Foto: Rafael Stefani Mendes

Das oito primeiras cidades com a maior proporção de casos de anomalias em bebês no estado, quatro ficam próximas à Ribeirão Corrente.

Até o próprio secretário de Saúde da cidade, Rodrigo Oliveira, que está há 14 anos no cargo, se impressionou com os números obtidos com exclusividade pela reportagem da CBN.

‘Estou surpreso com essas informações, essas coisas que você está passando. Pra você ter uma ideia, isso não é uma coisa nem questionada. Nunca foi questionado isso perante o município’, afirma.

 

 

Agora, uma força-tarefa informal montada pela defensoria com a ajuda de pesquisadores de diversas áreas quer investigar a relação entre anomalias e mortes por câncer com o uso de agrotóxicos, já que as cidades com os índices mais elevados desenvolvem atividades agrícolas.

Cada brasileiro consome em média 5 litros de agrotóxicos por ano, diz o Instituto Nacional do Câncer

Ubirani Otero, que é responsável pela Unidade Técnica de Exposição Ambiental do Instituto Nacional do Câncer, explica que o uso de agrotóxicos potencializa o risco de diversos problemas de saúde.

‘Já tem evidências de vários efeitos e no mínimo dez tipos de câncer. E as crianças cujos pais são expostos e trabalham na lavoura têm maior risco de desenvolver câncer de cérebro e leucemia infantil’, alerta.

Filha de agricultores nasce com fenda palatina

Em Ribeirão Corrente/SP, o casal Francisco e Elaine Silva queria ter três filhos. Ela ficou grávida três vezes, mas a primeira filha, Franciane, foi a única que sobreviveu.

A adolescente nasceu com fenda palatina e um atraso neurológico. Por causa do problema, a menina de 13 anos pensa e age como uma criança de oito. Pra piorar, na sala dela, todos os 27 alunos têm algum tipo de atraso cognitivo.

Elaine conta que o casal sempre conviveu com os agrotóxicos. ‘Meu marido mesmo já aplicou muito veneno sem luva, sem máscara, sem nenhum tipo de proteção. Tem aqueles que é de joga na plantação, que jogava com as mãos’, diz.

Livre circulação de agrotóxicos preocupa pesquisadores

Segundo o Instituto Nacional do Câncer, cada brasileiro consome em média cinco litros de agrotóxicos por ano.

A livre circulação do produto nas cidades agrícolas aumenta a preocupação.

É por isso que médicos do Instituto e pesquisadores independentes se juntaram com a Fiocruz e a Anvisa para programar o maior estudo nacional sobre os impactos dos agrotóxicos para a saúde.

Porém, a falta de recursos e de vontade política faz com que a ideia avance com um ritmo bem mais lento do que o ideal.

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