No Brasil, a produção orgânica chegou a US$ 4 bilhões em 2018, segundo o Organis – Conselho Brasileiro de Produção Orgânica e Sustentável, que reúne cerca de 60 empresas do setor, e exportou US$ 180 milhões ano passado.
Este crescimento demonstra a firme tendência de mudança dos hábitos alimentares dos consumidores, especialmente a geração Millennials cuja postura está obrigando a uma radical e veloz transformação das grandes indústrias de alimentos.
Dados recentes revelam que tanto a busca por alimentação natural quanto a quantidade de adeptos do veganismo não param de crescer no Brasil.
Já são pelo menos 7 milhões de veganos brasileiros. De 2012 a 2017, o volume de buscas pelo termo “vegano” na internet aumentou 14 vezes no país. A estimativa de crescimento do mercado vegano é de 30% a 40% ao ano.
A Euromonitor International, empresa de pesquisa de mercado, em seu relatório de 2019, apontou as 10 tendências emergentes deste ano, que abordam os novos valores e hábitos dos consumidores e como este novo comportamento está afetando os negócios globalmente.
A consultoria destaca que o Brasil em 2016 já era o quarto mercado mundial de alimentos e bebidas saudáveis com R$ 93 bilhões.
Outros dados que mostram esta mudança no varejo são os da Associação Brasileira de Supermercados destacando que 98% das residências consomem um produto saudável. Recente levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) revelou que 80% dos brasileiros buscam alimentação saudável.
Neste cenário de grandes e rápidas mudanças está obrigando as indústrias de alimentos e ingredientes a mudarem para atender o consumo da sociedade, Diário Verde conversou com Alberto Gonçalves, consultor especializado em startups de alimentos saudáveis, orgânicos e plant based.
Ele falou sobre a revolução disruptiva que ocorre velozmente na busca do consumidor brasileiro (e também no mundo) e o aumento do interesse por produtos que contribuam para proporcionar mais bem-estar e qualidade de vida.
Um de seus clientes a Pink Farms, fazenda urbana vertical foi capa da revista Globo Rural e destaque na Folha de S.Paulo.
Acompanhe abaixo, os principais trechos da entrevista.
O crescimento do mercado de produtos saudáveis demonstra a mudança dos hábitos alimentares dos consumidores.
Principalmente a geração Millennials que está obrigando a uma radical e veloz mudança das grandes indústrias de alimentos
DV – Conte um pouco do seu perfil profissional antes da consultoria?
Alberto Gonçalves – Trabalhei no mercado financeiro por 27 anos, com formação em Administração de Empresas e MBA na FGV/RJ em Finanças. Sou professor universitário há mais de 18 anos e há quatro dou aulas na pós-graduação da Universidade Mackenzie/SP, nas cadeiras de Finanças, Custo e Empreendedorismo e Mercado de Capitais.
Em 2012 fiz minha transição do mercado financeiro para o empreendedorismo na área de distribuição e produção de alimentos orgânicos e saudáveis. Montei uma operação (Mondial Brands) até setembro de 2018, quando vendi o negócio e licenciei a marca que desenvolvi, Pick’n Green (abaixo) , onde fomos desde a fonte do produtor até o lançamento dessa marca até a distribuição no varejo em SP, Rio de Janeiro, Fortaleza etc.
Há nove anos criei uma empresa de consultoria que desde 2018 desenvolve um trabalho junto a startups, além de médias e grandes empresas para mostrar qual o foco que elas devem ter em relação ao mercado de alimentos saudáveis, orgânicos e plant based (*).
Este segmento vem crescendo bastante, e embora as pessoas estejam percebendo esta mudança, até pela repercussão na imprensa e mídia em geral, ainda não conseguem acompanhar esta expansão.
Então, o meu objetivo é conscientizar o mercado do que está acontecendo neste mundo dos orgânicos e saudáveis, tanto nas grandes e médias empresas, como nas startups.
DV – O que vem a ser plant based (*)?
Alberto Gonçalves – O conceito trabalha muito com o ‘fresh food’, ou seja, alimentos frescos, in natura, como as saladas, abrangendo uma população de vegetarianos, veganos e flextarianos (vegetarianos iniciantes que buscam alimentação saudável e reduzem o consumo de proteína animal). Então, hoje o plant based no Brasil, é um movimento irreversível, e não simplesmente um nicho de mercado.
O que acontece hoje é que o plant based foi industrializado, como por exemplo, os hambúrgueres de proteína vegetal que estão sendo lançados no mercado, muito parecidos com carne e desenvolvidos com muita tecnologia.
O objetivo deste segmento não é só oferecer o alimento apenas para os vegetarianos e veganos, mas sim a todos que desejam conhecer um alimento saudável mas, ao mesmo tempo, não conseguem deixar o consumo de carne de uma hora para outra. Porque realmente é difícil, afinal as pessoas foram criadas comendo carne.
Na minha percepção, este segmento está ampliando a oferta de produtos para os consumidores que têm vontade e pretendem iniciar uma vida mais voltada a uma alimentação saudável, como os vegetais e as plantas.
Hoje, por exemplo, você tem possibilidade de consumir salsicha, lingüiça, hambúrguer e carne moída de plant based.
Antigamente as indústrias alimentícias faziam um produto, lançavam no mercado e todo mundo comprava.
Hoje o consumidor está exigindo que as empresas mudem oferecendo produtos mais saudáveis e naturais
DV – Por que você decidiu focar seu negócio na alimentação saudável?
AG – É claramente perceptível que, ao compararmos o Brasil e os Estados Unidos, a nossa alimentação é muito boa e muito menos industrializada que a dos norte-americanos.
No entanto, há uma necessidade e vontade das gerações mais novas como os Millennials (geração Y) em focar na alimentação saudável, sem agrotóxicos, com proteínas que – apesar de não ser de origem animal , buscam aliar a uma perspectiva de futuro de vida mais longa.
Então, por exemplo, você pega os Millennials, a geração de 30/34 anos que já tem seus filhos e estão ensinando as crianças a comer mais frutas, verduras etc.
Porque que trabalho com este objetivo? A minha startup começou a fazer um trabalho muito interessante e o primeiro fornecedor foi a Fazenda da Toca que tem um trabalho super interessante. Eu entrei e vivenciei este mundo, estive lá algumas vezes e me encantei com este mundo.
Daí a minha vontade de divulgar o máximo possível sobre o que está acontecendo com a mudança do hábito alimentar. Isto é notório. Muitas vezes as pessoas falam, mas este movimento não é somente romantismo e fantasia.
DV – O que a mudança de hábito do consumidor provoca na indústria de alimentos?
AG – O consumidor está exigindo que as indústrias mudem. E o meu contraponto é o seguinte: por que a Coca-cola comprou a Campo Verde? Ou a companhia está lançando um iogurte sem nenhum tipo de corante?
Por que a Tysson (maior processadora de proteína animal nos EUA) está investindo em plant based – hambúrguer? E qual a razão da Unilever ter comprado a Mãe Terra?
A resposta a essas perguntas é atender a necessidade da população, do consumidor, ou seja, um movimento de baixo para cima. Antigamente as indústrias alimentícias faziam um produto, lançavam no mercado e todo mundo comprava.
Agora é o seguinte: é uma mudança de comportamento da sociedade mundial.
Porque você mudar uma indústria que está acostumada a fazer determinado produto durante anos e que ela determina o que o consumidor deve comprar. De repente, isto muda estruturalmente.
Você pega empresas gigantes multinacionais que não conseguem se movimentar numa velocidade muito grande.
E aí entra o mercado que a gente está inserido do ecossistema de startups.
E quem está fazendo esta mudança são as startups que estão levando as mudanças de hábitos alimentares dos consumidores para dentro das indústrias.
Você vê a Tysson investindo na startup nos EUA. Aqui no Brasil nós vemos várias startups em aceleradoras e incubadoras dessas grandes empresas como a Unilever, a área de inovação da Nestlé etc. Então, essa mudança está acontecendo de baixo para cima e da inovação do pequeno para o grande.
Por que o Burguer King lançou hamburguer vegetal no Brasil? Ou a Coca Cola comprou a Campo Verde e está lançando um iogurte sem nenhum corante? E a Unilever comprou a Mãe Terra?
A resposta a estas questões é atender a necessidade da população que deseja alimentos mais saudáveis
DV – E quem são estas startups? São empreendedores, românticos, idealistas, investidores?
AG – Existe de tudo, até porque o nome já diz empresas iniciando operação. São empreendedores que na maioria das vezes perceberam a necessidade do consumidor, viram e se espelharam em algumas startups dos EUA, Europa porque são países muito mais evoluídos em alimentos orgânicos e saudáveis. Então o crescimento lá fora é muito maior do que no Brasil.
Os empreendedores nacionais viram o que está acontecendo no mercado e decidiram investir e empreender e estão fazendo sucesso. Em nossos eventos (AGN) tivemos apresentações super interessantes, totalmente disruptivas como produzir folhosas num galpão fechado, sem irradiação do sol, por exemplo.
Nos últimos doze meses, os fundos de investimento olhando forte para o mercado foodtech.
DV – Já podemos quantificar quanto este mercado (plant based) movimenta no Brasil?
AG – Aqui ainda é muito incipiente, mas um estudo da AT Kearney com base mundial, da Alemanha, informa que até 2040 teremos um consumo de proteína animal de 40% a quase 30% de planted-based e o restante de clean-meat (carne feita em laboratório).
DV – Quais os desafios de uma startup de produtos naturais?
AG – No Brasil os desafios são gigantescos: burocracia, entraves governamentais, logística, tudo. O empreendedor tem que ser muito resiliente e “ter um parafuso a menos”, rss para poder operar no Brasil.
O sucesso não depende apenas de tirar a ideia do papel. Depende dele se estruturar desde o início, olhando todas as áreas da empresa (produção, administrativo-financeiro, comercial). O empreendedor tem que entender que não é só tirar a ideia do papel, mas acompanhar todas essas áreas.
Ou seja, o conjunto dessas áreas é que vai fazer o sucesso da empresa. E a AGN Consultoria está aí para apoiar e auxiliar na área comercial dos alimentos saudáveis. Tem que se estruturar na área financeira. Não pode começar sem saber quanto está faturando, qual é o seu resultado etc.
Até porque no decorrer do tempo, o empresário vai precisar de dinheiro para crescer, investimento de algum fundo ou investidor-anjo que vai perguntar sobre esses números e se o empreendedor não os tiver estará fora do mercado.
DV – O Organis estima que o consumo de orgânicos movimentou R$ 4 bi em 2018 no Brasil. O que acha do crescimento do mercado de alimentação saudável x recessão econômica que está vivendo? E os preços finais ao consumidor que ainda são muito caros?
AG – Há um ano e meio a receita ainda era de R$ 2,5 bi e hoje nesta faixa de R$ 4 bilhões. Se considerarmos os alimentos e bebidas saudáveis, segundo a Euromonitor, em 2016 o Brasil já era o quarto maior mercado mundial com R$ 93 bilhões.
Isto explica porque somos um país tropical, temos um grande consumo de fresch food, temos uma faixa litorânea onde as pessoas expõem muito mais o corpo do que os países de clima frio, onde as pessoas ficam abrigadas etc.
O que temos de entender é que esse crescimento é gigantesco. Se você pega uma cadeia de varejo, por exemplo, o Saint Marchê que abriu um corredor de saudáveis, ou o Carrefour direcionando às classes B, C e D já tem corredores de saudáveis.
Você pega, por exemplo, o lançamento plant based do hambúrguer a base de planta da marca Fazenda do Futuro que já está em várias redes varejistas Saint Marchê, Carrefour e Pão de Açúcar.
Então nós temos um crescimento tanto da indústria investindo neste segmento, até porque está perdendo mercado não para o concorrente, mas sim para os saudáveis.
Quando falo da grande indústria (grandes multis) que sempre foi focada em sódio, gordura saturada etc.
Com relação a preços, ainda existe uma avaliação de que os orgânicos são mais caros que os convencionais. Exemplo: um suco de uva integral sem adição de água é praticamente o mesmo preço do um orgânico. Existe, sim, por parte do varejo, um entendimento que o orgânico é um produto diferenciado (Premium).
Claro, entendemos que a existe menor produção, alguns deles menor produção e aí vai de demanda e oferta, mas o que acontece é que às vezes o varejo põe uma margem superior entendendo que aquele produto tem um valor agregado.
Hoje, a velocidade da tecnologia e da informação aliada a mudança de hábitos das novas gerações está acelerando e transformando radicalmente o mercado de alimentos saudáveis
DV – Como a conscientização das novas gerações interfere na cadeira produtiva para atender a demanda do mercado? E a questão dos preços ainda considerados caros nos alimentos saudáveis?
AG – Acredito que nós só temos apenas uma parcela da população conscientizada, mas este cenário está mudando rapidamente pelas novas gerações que, inclusive, estão influenciando as mais velhas. Nós temos uma possibilidade de acelerar esta conscientização pela velocidade da tecnologia e a informação.
Hoje as coisas acontecem em tempo real, por exemplo, em abril estive com Leandro Mendes, da startup Behind The Foods, que lançou seu hambúrguer plant based logo depois da Fazenda Futura
Um mês depois, na Apas Show 2019, tanto Seara como Superbom lançaram seu hambúrguer plant based. É tudo acelerado, há dois meses nada disso existia nada no Brasil só os produtos nos EUA e agora temos no mercado quatro players de uma só vez.
Sempre existiu no Brasil hambúrguer feito de soja etc, mas estes novos lançamentos são mais parecidos com carne. Este mercado não é moda nem tendência e sim realidade, cada vez mais temos a busca por produtos orgânicos e saudáveis.
Você grandes players como a Coca-Cola quando comprou a Suco Dell Valle que era só néctar despencou as vendas porque o consumidor rejeitou. Aí mudaram para sucos integrais, sem adição de açúcar, então você vê que a demanda é grande e obriga as grandes a mudarem.
As grandes indústrias estão preocupadas porque a demanda é grande, só que não tem ainda conhecimento de como este mercado funciona.
E aí entra AGN mais uma vez, não só para startups, mas também para as grandes empresas para dar esta consultoria de como este mercado funciona. A ideia é disseminar essa cultura.
Serviço Diário Verde
Mais informações e contato: AGN Consultoria
Plant based
A dieta plant based, que vem se tornando cada vez mais popular, prioriza o consumo de alimentos de origem vegetal, sendo o mais natural e mais perto de sua forma original possível, com muitos alimentos coloridos ou “comida de verdade”.
Ou seja, são valorizados os alimentos em sua forma mais íntegra, livre de qualquer refinamento, inúmeros processamentos e aditivos artificiais. A dieta melhora a saúde e o sistema imunológico, devido à grande variedade de alimentos de origem vegetal com grande aporte de micronutrientes, fibras, antioxidantes e compostos bioativos.).
Fonte: Natue life
Microgreens
Microgreens ou micro verdes são vegetais em estado jovem, intermediários entre os brotos e as versões baby, ou seja, são versões menores e já desenvolvidas de hortaliças, ervas e legumes. Eles têm um sabor intenso econcentrado teor de nutrientes. Possuem uma variedade de cores e texturas
Fonte: Microgreen