O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, juntamente com diversas entidades da sociedade civil – de saúde, nutrição, agricultura orgânica, segurança alimentar, celíacos, dentre outras, divulgaram ontem (17/08), uma carta aberta em que pedem que o renomado chef inglês reconsidere o acordo a Sadia, uma das gigantes companhias brasileiras de alimentoso ultraprocessados.
Confira abaixo, o teor da manifestação que o Diário Verde repercute.
As entidades também lançaram uma campanha online para que pessoas e outras organizações interessadas assinem a carta e reforcem o pedido de que Jamie Oliver desista da parceria.
Como se sabe, o britânico, apresentador de programas culinários exibidos no Brasil e conhecido por defender a alimentação saudável, fechou recentemente uma parceria com a Sadia que envolve o projeto Saber Alimenta, que prevê atividades com crianças em escolas.
Uma das ações do projeto mais criticadas pelas organizações são as atividades educativas, que serão realizadas em escolas, com crianças de 6 a 10 anos de idade.
Na carta, as entidades destacam que essas atividades, na prática, não passam de ação de marketing da Sadia, com objetivo de desenvolver positivamente a reputação da marca e de seus produtos, fidelizando o público ao consumo de alimentos não saudáveis desde a infância.
Proteção às crianças contra a publicidade e exposição abusiva
Além da crítica à parceria, as entidades fazem um apelo a Oliver: que ele impeça a exposição dessas crianças aos produtos e ao projeto da empresa brasileira. Elas também pedem que o chef reconsidere sua decisão de vincular sua imagem a este projeto.
A carta usa como argumento o art. 37, § 2,° do Código de Defesa do Consumidor (CDC) e a resolução 163/2014 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), que vedam e consideram abusiva a comunicação mercadológica direcionada à criança.
Além disso, ressalta que, segundo o Programa Nacional de Alimentação Escolar, as ações de educação alimentar e nutricional devem ocorrer sem conflito de interesses – como é claramente o caso da parceria entre Jamie Oliver, que tem uma imagem de ativista da alimentação saudável, e a Sadia.
Mais informações: Idec
Confira alguns trechos da carta
Carta aberta* ao chef Jamie Oliver
Brasil, agosto de 2016.
Nós, cidadãos e organizações da sociedade civil comprometidos com a saúde e o direito humano à alimentação adequada, vimos através desta manifestar nosso repúdio à parceria estabelecida entre o senhor e a Sadia para o projeto “Saber Alimenta”.
Este programa prevê a realização de supostas “atividades educativas” em escolas, ao passo que sabemos que crianças devem ser protegidas contra práticas abusivas de comunicação mercadológica, como ações de merchandising dentro do ambiente escolar.
A alimentação adequada e saudável é um direito humano, reconhecido em inúmeros documentos internacionais, nacionais e incluído na constituição brasileira. Não queremos que nossas crianças sejam transformadas em promotoras de produtos de qualquer marca.
Mais informações: https://www.change.org/p/nas-nossas-escolas-n%C3%A3o-jamie-oliver-repense-a-sua-parceria-com-a-sadia
Ao final do texto, as 42 entidades assinam e justificam a iniciativa
* Esta carta foi motivada pela divulgação da parceria do Frigorífico BRF (detentor das marcas Sadia, Perdigão e Qualy) com Jamie Oliver, chef internacional, conhecido pelo seu movimento “Food Revolution”, que tem como focos de ação:
Educação alimentar, nutrição, desperdício alimentar, sustentabilidade, culinária e comércio ético (o que inclui o bem estar dos animais criados para consumo humano).
Esta parceria ganhou notoriedade e gerou controvérsias pelo volume do investimento financeiro envolvido, pela união de atores com práticas aparentemente não convergentes, pela ação publicitária massiva e articulada para o seu anúncio e pelo público de interesse (escolares, em uma das vertentes de ação)