Piolho-de-cobra produz adubo orgânico de alta qualidade

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Exímios trituradores que produzem adubos de excelente qualidade. Foto: Luiz Fernando/Embrapa

 

Os gongolos, pequenos animais que integram parte da fauna do solo, também conhecidos como como piolho-de-cobra, maria-café ou embuá, são exímios trituradores de resíduos e produzem adubos orgânicos de excelente qualidade, segundo descoberta dos pesquisadores da Embrapa Agrobiologia, RJ,  constatando, inclusive, que são mais eficazes que as minhocas na reciclagem de material orgânico e na produção de adubo de origem orgânica (* húmus).

Ao contrário das minhocas que são bem famosas pela capacidade de produção de húmus, os gongolos são pouco conhecidos e não há registro de qualquer estudo na produção científica brasileira sobre o tema. O resultado das pesquisas mostrou que o substrato produzido pelos gongolos tem a mesma qualidade dos materiais gerados pelas minhocas.

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Foto: Divulgação

A grande diferença é que o vermicomposto (das minhocas) ainda precisa ser misturado com pó de carvão e torta de mamona (adubo orgânico rico em nitrogênio) para melhorar sua textura e seu nível de nitrogênio.

Já o gongocomposto, como o adubo natural está sendo chamado, dispensa misturas para melhorar a textura e os níveis de nutrientes do composto e já está pronto para uso na produção de mudas em três meses. Esses animais vivem escondidos embaixo de folhas, pedras ou troncos de árvores, e algumas vezes são confundidos com pragas.

Segundo a pesquisadora da Embrapa Maria Elizabeth Correia (ao lado) produzir o gongocomposto não requer muita mão de obra e pode ser uma boa alternativa para o produtor aproveitar resíduos orgânicos existentes na propriedade e ainda reduzir custos com o seu uso.

 

Piolho-de-cobra processa até papelão

“Criamos um procedimento mínimo em que sabemos que podemos colocar até papelão que o animal processa”, explica a especialista. Resíduos comuns na propriedade agrícola, como bagaço de cana, sabugo de milho e aparas de grama também podem ser utilizados. Basta adicionar sempre um material rico em nitrogênio, como, por exemplo, uma leguminosa. Nos experimentos, os gongolos processaram até papelão.

Uma particularidade do processo é que a ação dos gongolos reduz o volume de materiais em 70 por cento. Ou seja, se o produtor colocar dez litros de resíduos, no final terá três litros de composto. O processo pode levar de três a seis meses, sem a exigência de revirar o material.

“O que fazemos é juntar os resíduos secos e o gongolo, e colocar em uma área confinada para que ele não saia dali e processe tudo. Uma vez por semana é preciso checar a umidade e, se estiver muito seco, é necessário molhar o composto”, explica a pesquisadora.

Uso como substrato para mudas

Em três meses, o gongocomposto já está em condições de uso. Mas após testes para ver o tempo ideal de compostagem, os pesquisadores perceberam que quanto mais o material é triturado pelos gongolos, melhor será a sua qualidade.

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Foto: Luiz Fernando/Embrapa

“Quando comparamos os materiais de diferentes tempos de processamento, vimos que em termos de teor de nutrientes não há muita diferenciação, mas nas mudas o efeito é significativo”, relata Maria Elizabeth.

Para a produção de mudas, o substrato que apresentou melhor desempenho foi aquele produzido em seis meses.

Quanto maior o tempo de compostagem, mais o composto é processado. A pesquisadora conta que isso é resultado do trabalho do gongolo e dos microrganismos presentes no composto. E o resultado é um substrato que possibilita mudas vigorosas e com estabilidade do torrão, o que evita perdas na hora do plantio.

Após testes com o gongocomposto em alface, rúcula, tomate e beterraba, o agrônomo Luiz Fernando de Sousa Antunes, mestrando na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), ressalta que, além de não precisar fazer misturas para produzir as mudas, o substrato possibilita a uniformidade da bandeja.

“É comum nos substratos comerciais uma concentração de nutrientes em alguns pontos da bandeja, o que não acontece com o gongocomposto. E o resultado são bandejas homogêneas, sem fazer reboleiras, com mudas de diferentes tamanhos”, explica Antunes. Ele avalia o gongocomposto no tema de sua dissertação de mestrado.

Mas como encontrar o gongolo?

A técnica de produção de gongocomposto pode ser feita por qualquer espécie desse pequeno habitante da fauna do solo. Segundo a pesquisadora da Embrapa, a maioria das espécies tem capacidade de triturar resíduos brutos, mas algumas são mais eficientes. O que ocorre é que algumas consomem mais e são mais abundantes.

Há cerca de 8 mil espécies de gongolos. Os testados pela Embrapa são da espécie Trigoniulus corallinus, originária do Sudeste Asiático e presente em diversas regiões brasileiras. De acordo com Maria Elizabeth a maioria das espécies é capaz de triturar resíduos brutos, algumas com maior eficiência. A especialista acrescenta ainda que a melhor época do ano para coletar os gongolos é no período de chuvas, quando estão ativos e acasalando.

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Os gongolos testados pela Embrapa são orginários do Sudeste Asiático, presentes em várias regiões do Brasil. Foto: Embrapa

Nos anéis de concreto de cerca de 500 litros utilizados como composteira para a pesquisa, são utilizados cerca de 3.800 gongolos.

“Na nossa região, é entre outubro e abril, por exemplo. Em dezembro, um mês muito quente e chuvoso, basta haver um local com acúmulo de matéria orgânica, que em dois dias é possível conseguir essa quantidade sem muita dificuldade”, conta a bióloga.

Apesar de ser um parente distante das lacraias, o gongolo não oferece riscos, não tem ferrão, não morde, não é agressivo e pode ser coletado facilmente.

“Uma ou outra espécie de floresta fechada pode apresentar uma substância que causa queimadura, mas esses que vivem em ambientes abertos, com os quais estamos trabalhando, não oferecem qualquer risco”, revela a pesquisadora.

(*) Húmus (ou humo) – Substância escura que resulta da decomposição parcial, pelos micróbios do solo, de detritos vegetais e animais. A decomposição é causada pela ação de seres vivos microscópicos: bactérias e fungos. Um grande acúmulo de humo no solo afeta a estrutura deste e a sua capacidade de reter umidade e, portando, fornecer alimento. Já uma boa mistura de humo, normalmente aumenta a quantidade e a qualidade da colheita.

Fonte: Ana Lucia Ferreira/Embrapa Agrobiologia