Um dos grandes desafios para os agricultores brasileiros é o controle de pragas e a estratégia de combate mais utilizada por eles tem sido o uso de agroquímicos, que podem causar consequências graves ao meio ambiente e aos seres humanos.
Neste cenário da busca de soluções, uma delas é o manejo integrado de pragas no campo, associando produtos biológicos com inimigos naturais, para diminuir ou num futuro eliminar a aplicação de agrotóxicos.
Pela importância do assunto, Diário Verde repercute matéria do repórter Ivanir Ferreira do Jornal USP que noticia a inovação de utilizar meios naturais (fungos) para diminuir as pragas nesses cultivos.
Confira abaixo, o trabalho da autora da pesquisa da bióloga Fernanda Canassa, da Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalg) da USP, sobre o método inovador para o controle das infestações em morango e feijão.
O novo método reduziu a aplicação de agroquímicos, melhorou o desenvolvimento do feijão e morango e foi inofensivo ao ambiente e à saúde humana
Ao buscar inovações para uma agricultura sustentável, pesquisadores da USP e da Universidade de Copenhague (Dinamarca) utilizaram meios naturais para diminuir a população de organismos considerados prejudiciais às plantações.
Inocularam fungos entomopatogênicos (que podem atacar os insetos) em plantas de feijão e de morango para combater o ácaro rajado (Tetranychus urticae), que atinge além destas duas culturas mais outras 200 espécies diferentes.
A autora da pesquisa, é a bióloga Fernanda Canassa, do Laboratório de Patologia e Controle Microbiano de Insetos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba/SP.
Esses fungos já são utilizados para combater pragas em outras plantações, porém, são pulverizados sobre as plantas com o objetivo de atingir determinada praga alvo.
No estudo em questão, as sementes de feijão e as raízes de plantas de morango foram inoculadas (mergulhadas) em suspensões de fungos.
Inovação e aumento da produtividade
“Este novo método é uma estratégia inovadora que pode reduzir as aplicações de agroquímicos para o controle do ácaro rajado, melhorar o desenvolvimento das plantas de feijão e de morango, além de ser inofensivo ao meio ambiente e à saúde humana.”
O ácaro rajado ataca as folhas das plantações provocando amarelecimento destas, reduz capacidade da planta de realizar a fotossíntese e como consequência há perda acentuada da produção e da qualidade dos frutos.
No morangueiro, por exemplo, quando há grande infestação, a produção de frutos fica comprometida em até 80%. O controle da praga é realizado com a aplicação de acaricidas ou através da liberação de ácaros predadores.
Fernanda explica que quando inoculados, “os fungos dos gêneros Metarhizium e Beauveria (os “fungos do bem”) são capazes de colonizar o interior dos tecidos das plantas e conferir proteção contra algumas espécies de pragas”, diz.
Os estudos foram realizados conjuntamente na Dinamarca e no Brasil. Na Universidade de Copenhague, os testes foram feitos com feijão cultivado em casa-de-vegetação.
A ideia foi analisar os efeitos da inoculação de sementes de feijão em suspensões de Metarhizium e Beauveria no crescimento populacional do ácaro rajado, no desenvolvimento e produção da leguminosa e no comportamento e taxa de predação de uma espécie do ácaro predador (Phytoseiulus persimilis).
Resultados promissores
No Brasil, os experimentos foram feitos com morangos em casa-de-vegetação na Esalq e em quatro áreas de produção comercial, sendo três em Atibaia, em São Paulo, e uma em Senador Amaral, Minas Gerais.
Nesse caso, as raízes de morangueiro foram inoculadas em suspensões fúngicas. Aqui, foram avaliados o crescimento populacional do ácaro rajado, o desenvolvimento das plantas e a produção de frutos. Em campo, foram também observados os efeitos contra fitopatógenos (micro-organismos que causam doenças nas plantas) e ácaros predadores presentes nas áreas experimentais.
Os resultados da pesquisa confirmaram redução significativa na população de T. urticae e melhor desenvolvimento das plantas.
Segundo Fernanda, a produção das vagens do feijão e dos frutos de morango foram superiores nas plantas inoculadas em relação às não inoculadas.
No campo, foram observadas populações significativamente menores de T. urticae, menos sintomas de doenças e não houve efeito negativo na população natural de uma espécie de ácaro predador (Neoseiulus californicus).
Como perspectiva prática, Fernanda afirma que há a possibilidade de, no futuro, haver o desenvolvimento de produtos comerciais, como um biopesticida à base de fungos entomopatogênicos para uso como inoculantes.
“A associação desses produtos biológicos com outros inimigos naturais (parasitoides e predadores) certamente contribuirá para o manejo integrado de pragas de diversas culturas no campo”, completa.
Mais informações: e-mail fernanda.canassa@usp.br, com Fernanda Canassa
Fonte: Jornal da USP