Brasil aprova fusão da DuPont e Dow Chemical, gigante de agrotóxicos e sementes de US$ 130 bilhões

Foto: Agência Reuters

 

A imprensa repercute o processo de fusão entre as rivais DuPont e Dow Chemical — anunciada em dezembro de 2015 e que começa agora a receber o sinal de verde de órgãos de defesa de concorrência em diversos países. No Brasil, nesta quarta-feira, 17/5, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão do Ministério da Justiça (*) aprovou a operação mundial de integração das duas companhias, com ressalvas. Confira abaixo a notícia com base em informações do jornal O Globo e da Agência Reuters.

 

A iniciativa criará um conglomerado de US$ 130 bilhões em valor de mercado e um líder mundial na produção de agrotóxicos e sementes, desbancando a americana Monsanto do pódio. Segundo o Globo, o grupo vai unir duas centenárias empresas americanas que estão no coração da cadeia produtiva de setores como cosméticos, autopeças, defensivos agrícolas e outros setores tão presentes no dia a dia das pessoas.

Jà a Agência Reuters informa que  o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou nesta quarta (17/5), por unanimidade, a operação mundial de fusão entre a Dow Chemical e a DuPont, condicionada a cumprimento de acordo com as partes que prevê uma série de desinvestimentos ao redor do mundo, que foram negociados com órgãos de defesa da concorrência de outros países e no Brasil.

Entre esses compromissos está o desinvestimento de ativos relacionados a sementes de milho da Dow no Brasil, como a transferência de cotas em banco de germoplasma, centros de pesquisa, entre outros.

Os termos do acordo aprovado são semelhantes ao que já havia sido analisado pela Superintendência-Geral do Cade, que no início deste mês apresentou parecer favorável à operação, com os desinvestimentos previstos no acordo.

Desinvestimento

Conforme a Reuters, internacionalmente, o acordo prevê alienação nos negócios de copolímeros de ácido e ionômeros de propriedade da Dow. “O comprador tem de ser independente, sem vínculos com as partes, deve ter recursos financeiros e experiência para desenvolver no negócio, com força concorrencial”, disse o conselheiro Paulo Burnier, relator do caso no plenário do Conselho.

Outro desinvestimento previsto é na área de defensivos agrícolas, envolvendo, nesse caso, ativos globais da DuPont, incluindo linhas de produtos, propriedade intelectual, entre outros. Em nota conjunta, a Dow e a DuPont afirmaram que “continuam trabalhando de forma construtiva com órgãos regulatórios das demais jurisdições relevantes para obter a aprovação da fusão” e acreditam que o processo deverá ser concluído entre 1 de agosto de 2017 e 1 de setembro de 2017.

“A aprovação da fusão pelo Cade está sujeita à implementação do pacote de remediações que mantém a lógica estratégica e o potencial de criação de valor da transação para todas as partes interessadas”, diz a nota, segundo a agência de notícias.

“Este pacote contempla a venda de parte do negócio de sementes de milho da Dow AgroSciences no Brasil, incluindo algumas unidades para processamento de sementes, centros de pesquisa em sementes, uma cópia do banco de germoplasma da Dow AgroSciences no Brasil, a marca Morgan e a licença para uso da marca de sementes da Dow por um determinado período de tempo.”

As duas empresas classificaram a aprovação do negócio pelo Cade como “um resultado muito positivo para a fusão”. Para não influenciar nas negociações de vendas dos ativos, o Cade não divulgou detalhes, como o prazo para a conclusão dos desinvestimentos.

 

Arte: O Globo

 

Gigante mundial de agrotóxicos e sementes

Hoje, informa o Globo, a DuPont ocupa o quarto lugar no ranking global do setor agrícola em faturamento. A Dow vem em seguida, no quinto lugar. Juntas (US$ 19 bilhões, com base em dados de 2014), elas ultrapassarão a Monsanto (US$ 16 bilhões), a suíça Syngenta (US$ 14 bilhões) e a alemã Bayer (US$ 12 bilhões). Procurada, a Monsanto não comentou a fusão.

A operação já foi aprovada pela União Europeia, pela China e agora pelo Brasil, mas sempre com a exigência de condições como a venda de ativos, para tentar minimizar os efeitos da união de dois gigantes nos segmentos da indústria em que atuam.

Para ser levada adiante, a fusão ainda precisa da autorização de Estados Unidos, Austrália e Canadá. O cronograma está atrasado: a previsão inicial era de que a fusão estivesse concluída no segundo semestre de 2016.

A fusão não envolve dinheiro, apenas troca de ações. A expectativa é que haja um corte de custos de US$ 3 bilhões com sinergias.

A ideia é que a companhia seja separada em três empresas independentes, que atuarão nos segmentos agrícola (defensivos e sementes), de materiais científicos (que inclui revestimento e soluções para sistemas automotivos) e de produtos especiais (voltados para higiene pessoal, nutrição, eletrônicos, entre outros).

Concentração no mercado rural e aumento de preços

Segundo o jornal, o planejamento do novo grupo é se dividir em três companhias, focadas em agricultura, produtos especiais e materiais científicos. Já há investimentos previstos de mais de US$ 12 bilhões nos próximos dez anos, a maioria nos Estados Unidos.

Na avaliação de alguns analistas, a operação resultará em maior concentração de mercado, com risco de aumento de preços para os produtores rurais, especialmente no Brasil, onde as duas empresas têm forte atuação no segmento agrícola.

Na opinião do consultor de tecnologia da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Reginaldo Minaré,a fusão vai aprofundar o oligopólio, e com menos concorrência, será aberta uma brecha para aumento de preços. Isto porque, as duas empresas vão cortar custos com sinergias, mas não reduzirão suas margens de lucro,

Fonte e mais informações: O Globo, Agência Reuters

(*) O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) é uma autarquia federal brasileira, vinculada ao Ministério da Justiça, que tem como objetivo orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos do poder econômico, exercendo papel tutelador da prevenção e repressão do mesmo.